Bom galera, vamos falar um pouco sobre Bettas! Engraçado
como um dos peixes considerados mais rústicos, robustos e “simples” de se
manter pode estar envolto em tantas controvérsias! Nessa postagem, irei tratar
de dois “dogmas” existentes a respeito desses peixes no hobby, todos vistos
sobre a ótica das experiências que eu já tive, aliadas a informações que pude
angariar por meio de pesquisa.
Irei começar falando sobre o debate que envolve o habitat
natural do Bettas e os aquários em que vivem. Particularmente, acho muito
divertido quando alguém me diz que “Bettas gostam de águas sujas e paradas
porque seu habitat natural são as plantações de arroz asiáticas”. Independente
de qualquer crença, fico imaginando um criador do mundo, colocando todos os
peixes na água da Terra, e quando chega a vez do Betta, ele põe o peixe num
copo e diz “Não. Você só irá para a Terra quando os homens plantarem arroz”.
Não acho que tenha acontecido nada do tipo, muito menos se formos considerar a
evolução. Bettas vivem nas margens de riachos de pequeno e médio porte, que
podem ter até 100cm de profundidade, diferente do que muitos acreditam, eles
não vivem, regularmente, em poças como os killifishes anuais. Bettas já foram
encontrados no estômago de peixes do gênero Channa (os snakeheads) ; dá até
para imaginar um Betta numa poça, ou num riacho de 20cm de profundidade, agora
imaginar um snakehead nessas condições seria bem difícil. Bettas são sim
labirintídeos e respiram na superfície, por esse motivo muitos hobbystas creem
que mantê-los em aquário com grandes colunas de água pode matá-los,
literalmente afogados, interessante que nunca vi esse tipo de restrição para
colisas, trichogasters, e outros gouramis que também respiram ar atmosférico e
nadam de forma consideravelmente lenta. Creio, ainda, que os casos de morte de
Bettas nesse tipo de aquário podem estar aliados a erros do criador ou
debilitação prévia do peixe. Muitos Bettas produzidos comercialmente possuem
saúde frágil, infelizmente muitos criadores não prestam a devida atenção a esse
fator nos peixes que produzem. Além disso, em casos específicos, acredito que a
montagem do aquário possa prejudicar sim o Betta. Em casos de água
excessivamente movimentada aliada a elevada coluna de água, o peixe pode sofrer
algum tipo de estresse. Dito isso, vale lembrar que os Bettas possuem um órgão
chamado bexiga natatória que os permite controlar a profundidade em que querem
estar, principalmente em águas calmas. Portanto, um Betta não irá afundar
indefinidamente em um aquário de 50 – 60cm de altura, ele pode muito bem
escolher nadar apenas na superfície, mantendo-se lá com o auxílio da sua bexiga
natatória e submergindo até o fundo do aquário quando desejar. O peixe é
perfeitamente capaz de “planejar” a descida e a subida na coluna de água de
acordo com a quantidade de ar que angariou da superfície, e os intervalos entre
as respirações aéreas dos Bettas podem variar de 90 a 120 segundos, tempo
suficiente para que o peixe fique submerso e retorne à superfície quando achar necessário. Com tudo
isso em mente, darei as minhas recomendações para manter esses peixes. Indico
aquário a partir de 10L e sistema de filtragem apropriado. Filtros como
canister podem promover boa filtragem, sem muita movimentação da água, porém
pode ser muito caros, especialmente ao se montar um aquário de pequeno porte.
Outros sistemas de filtragem como hang-on e bombas internas podem fornecer
filtragem ideal para aquários de pequeno porte e podem ser usados acessórios e
técnicas para fazer com que movimentem menos a água. No filtro interno pode-se
usar uma flauta de retorno e no caso do hang-on pode-se usar perlon na cascata,
ou aumentar o nível da água do aquário, o que reduz a força da queda d’água. Sobre
a montagem do aquário em si, caso pretenda manter o Betta com outros peixes
(pacíficos) deverá optar, naturalmente, por um aquário um pouco maior e então
nos deparamos com a pergunta monstruosa “como manter Bettas em aquário com mais
de 20 ou 30cm de altura?” Posso lhes dizer que é consideravelmente simples, eu
já o fiz e mantive a montagem por aproximadamente 3 anos. O aquário possuía 375L
(150cm X 50cm X 50cm) e eu usei algo que aprendi com um grande amigo meu e ele
gosta de chamar de “dinâmica de margens”. Com muitos troncos e galhos na parte
traseira do aquário fiz um sistema que ia do substrato até a alguns cm da
superfície. Entre os troncos coloquei anúbias, musgos e microssorums. Além
disso, plantei no substrato vallisnerias e higrófilas e as mantive grandes o
suficiente para que ficassem imediatamente abaixo da superfície da água. Dessa
forma, os Bettas possuíam muitos lugares para descansar próximos à superfície
e, mesmo assim, os Bettas ainda iam até o substrato procurar por comida, ainda
que eventualmente. Sempre que explico isso para alguém que acredita na “regra
dos 20cm” ou “dos 30cm” (que seja) a pessoa me fala algo do tipo “ah mas aí não
vale” ou então “você teve muito trabalho pra fazer dar certo”. Bom, se vale ou
não, cabe ao júri decidir o fato é que o aquário tinha 50cm de altura e o
substrato tinha entre 3 e 5cm. Além disso, eu nunca disse que não daria
trabalho manter Bettas em aquários altos, mas eu disse sim que era possível. E
sempre que me perguntam eu digo que esse tipo de montagem não depende apenas da
altura do aquário depende, também, da montagem do layout e depende também do
Betta! Creio que muitos hobbystas consideram impossível manter Bettas em
aquários altos porque conhecem apenas o Betta mais popular, o long fin (long
finned). Os machos desse tipo de Betta possuem barbatanas longas e volumosas e,
por conta disso, possuem uma mobilidade consideravelmente defasada, se
comparados aos Bettas selvagens ou do tipo plakat. Tendo dito isso, acredito
que esse tipo de Betta deva ser mantido, preferencialmente em aquários com
águas bastante calmas. Os Bettas selvagens e do tipo plakat conseguem nadar de
forma perfeitamente orientada em águas um pouco mais movimentadas (mas ainda
preferem ambientes lênticos). Porém, ainda acredito que os long fin possam ser
mantidos em aquários mais altos que 20 ou 30cm com as devidas adequações. Além
do mais, a cauda em véu dos Bettas long fin é muito mais chamativa que a cauda
dos outros dois tipos. Isso torna mais complicado misturá-los a outros peixes,
pois os Bettas long fin são mais propensos a terem suas caudas mordiscadas por
outros peixes. Os Bettas crowntail não apresentam problemas de mobilidade muito
acentuados, porém sua cauda também é extremamente chamativa.
Aproveitando o assunto, falarei também sobre a sociabilidade
dos Bettas. Muitos vendedores e hobbystas pregam que Bettas não podem viver com
nenhum outro peixe, entretanto muitas montagens bem sucedidas mantém Bettas
junto com outros peixes e mesmo com outros Bettas! Falemos sobre isso. Em
aquários de tamanho apropriado, Bettas podem conviver com outros peixes. Para
isso, eu indico aquários mais longos, que possuam, preferencialmente, a partir
de 60cm de comprimento, para que o Betta possa estabelecer um território sem a
possibilidade de querer dominar todo o tanque, além disso o comprimento do
aquário é importante para que os outros peixes possam fugir do Betta no início
e apenas caso seja necessário (na maioria das vezes nem é necessário fugir, uma
vez que depois de estabelecido seu território, o Betta se torna muito mais
calmo e os outros peixes aprendem a evitar a área escolhida por ele, que
geralmente não é muito grande). Como qualquer outro peixe, Bettas criados
sozinhos por longos períodos de tempo, podem ter dificuldade em aceitar
companheiros de aquário. Além disso, deve-se considerar que Bettas, como a
maioria dos peixes, possuem personalidades distintas e não há garantias de que
um Betta irá se comportar da forma esperada. A agressividade pode ser debelada
mantendo o aquário bem plantado, dando ao Betta a opção de escolher seu espaço
e permanecer nele sem ser “incomodado”. Outra maneira de contornar essa
agressividade é escolher Bettas jovens para inserir no aquário, assim irão se
acostumar à companhia de outros peixes durante seu desenvolvimento. Nesse
aspecto, Bettas são muito similares a ciclídeos. Eles escolhem um território e
o defendem, no caso dos Bettas essa defesa raramente é excessivamente
agressiva. Vale lembrar ainda que nem todos os Bettas determinam territórios
para si. Alguns exemplares são mais pacíficos e nadam por todo o aquário,
estabelecendo territórios apenas em período reprodutivo, assim como na
natureza, Bettas brigam muito mais durante o período reprodutivo para defender
seus territórios. Porém, via de regra, exemplares domésticos tendem a ser mais
agressivos que Bettas “wild caught”. Tendo dito isso, similar aos ciclídeos, é
possível manter múltiplos exemplares de Betta em um mesmo tanque, desde que o
aquário tenha um tamanho adequado. Para manter Bettas de ambos os sexos, sugiro
que sejam mantidas de 2 a 3 fêmeas para cada macho e que o aquário tenha a partir
de 100cm de comprimento e seja densamente plantado. As fêmeas provavelmente
irão brigar entre si até que se estabeleça uma hierarquia, depois de
estabelecida as brigas reduzem drasticamente e muitas vezes até deixam de
ocorrer. Recomendo ainda que as fêmeas sejam inseridas algumas semanas ou meses
antes do macho. No caso de manter mais de um macho (sim, é possível) eu sugiro
aquários a partir de 100cm de comprimento (usando uma “regra” de 50cm de
comprimento para cada macho) densamente plantados com muitas estruturas para a
formação de territórios. Um layout planejado para a formação de territórios,
com barreiras visuais, pode ajudar a reduzir ainda mais a agressividade dos
machos. Assim como as fêmeas, os machos brigarão no início até estabelecerem uma
hierarquia, a partir desse momento as brigas passam a se restringir apenas a
alguns flashes de barbatanas e algumas raras perseguições curtas. Não, Bettas
não lutam até a morte em seu habitat natural e também não o fazem em aquários
de tamanho adequado. O Betta derrotado foge do território do Betta dominante e
procura outra área para si. Ainda, assim como ciclídeos, Bettas respondem a
outra “regra” (odeio essa palavra no que se refere ao aquarismo, mas por falta
de uma melhor...). Podem ser mantidos juntos de forma mais harmoniosa nos dois
extremos da população de um aquário. Para que convivam da melhor forma possível
pode-se optar por manter poucos Bettas em um aquário com outros peixes (a
presença de outras espécies também reduz a agressividade dos Bettas e muitas
espécies são, inclusive, conhecidas como dither fishes) o que permite que
definam seus territórios, ou pode-se, ainda, optar pelo sistema de lotação, no
qual os peixes não estabelecem territórios e a grande quantidade de peixes é
responsável pela dispersão da agressividade. Para uma lotação, sugiro aquário a
partir de 200 litros. Vale lembrar que, mesmo em tanques que não são densamente
plantados, Bettas podem coexistir sem o estabelecimento de territórios apenas a
partir da instituição de uma hierarquia. Muitos criadores, inclusive, atribuem
o sucesso dessa prática à inexistência de territórios. Outro ponto importante a
se destacar é que a presença de fêmeas aumenta a agressividade e o
territotialismo dos machos. Por isso, preferencialmente, opto por manter apenas
um macho, ou 1 macho e um grupo de fêmeas ou ou apenas um grupo de fêmeas ou,
ainda, um grupo de machos sem nenhuma fêmea no aquário.
Um comentário:
Supimpa
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