sábado, 17 de dezembro de 2016

Peixe que morre afogado?!

Bom galera, vamos falar um pouco sobre Bettas! Engraçado como um dos peixes considerados mais rústicos, robustos e “simples” de se manter pode estar envolto em tantas controvérsias! Nessa postagem, irei tratar de dois “dogmas” existentes a respeito desses peixes no hobby, todos vistos sobre a ótica das experiências que eu já tive, aliadas a informações que pude angariar por meio de pesquisa.
Irei começar falando sobre o debate que envolve o habitat natural do Bettas e os aquários em que vivem. Particularmente, acho muito divertido quando alguém me diz que “Bettas gostam de águas sujas e paradas porque seu habitat natural são as plantações de arroz asiáticas”. Independente de qualquer crença, fico imaginando um criador do mundo, colocando todos os peixes na água da Terra, e quando chega a vez do Betta, ele põe o peixe num copo e diz “Não. Você só irá para a Terra quando os homens plantarem arroz”. Não acho que tenha acontecido nada do tipo, muito menos se formos considerar a evolução. Bettas vivem nas margens de riachos de pequeno e médio porte, que podem ter até 100cm de profundidade, diferente do que muitos acreditam, eles não vivem, regularmente, em poças como os killifishes anuais. Bettas já foram encontrados no estômago de peixes do gênero Channa (os snakeheads) ; dá até para imaginar um Betta numa poça, ou num riacho de 20cm de profundidade, agora imaginar um snakehead nessas condições seria bem difícil. Bettas são sim labirintídeos e respiram na superfície, por esse motivo muitos hobbystas creem que mantê-los em aquário com grandes colunas de água pode matá-los, literalmente afogados, interessante que nunca vi esse tipo de restrição para colisas, trichogasters, e outros gouramis que também respiram ar atmosférico e nadam de forma consideravelmente lenta. Creio, ainda, que os casos de morte de Bettas nesse tipo de aquário podem estar aliados a erros do criador ou debilitação prévia do peixe. Muitos Bettas produzidos comercialmente possuem saúde frágil, infelizmente muitos criadores não prestam a devida atenção a esse fator nos peixes que produzem. Além disso, em casos específicos, acredito que a montagem do aquário possa prejudicar sim o Betta. Em casos de água excessivamente movimentada aliada a elevada coluna de água, o peixe pode sofrer algum tipo de estresse. Dito isso, vale lembrar que os Bettas possuem um órgão chamado bexiga natatória que os permite controlar a profundidade em que querem estar, principalmente em águas calmas. Portanto, um Betta não irá afundar indefinidamente em um aquário de 50 – 60cm de altura, ele pode muito bem escolher nadar apenas na superfície, mantendo-se lá com o auxílio da sua bexiga natatória e submergindo até o fundo do aquário quando desejar. O peixe é perfeitamente capaz de “planejar” a descida e a subida na coluna de água de acordo com a quantidade de ar que angariou da superfície, e os intervalos entre as respirações aéreas dos Bettas podem variar de 90 a 120 segundos, tempo suficiente para que o peixe fique submerso e retorne à superfície quando achar necessário. Com tudo isso em mente, darei as minhas recomendações para manter esses peixes. Indico aquário a partir de 10L e sistema de filtragem apropriado. Filtros como canister podem promover boa filtragem, sem muita movimentação da água, porém pode ser muito caros, especialmente ao se montar um aquário de pequeno porte. Outros sistemas de filtragem como hang-on e bombas internas podem fornecer filtragem ideal para aquários de pequeno porte e podem ser usados acessórios e técnicas para fazer com que movimentem menos a água. No filtro interno pode-se usar uma flauta de retorno e no caso do hang-on pode-se usar perlon na cascata, ou aumentar o nível da água do aquário, o que reduz a força da queda d’água. Sobre a montagem do aquário em si, caso pretenda manter o Betta com outros peixes (pacíficos) deverá optar, naturalmente, por um aquário um pouco maior e então nos deparamos com a pergunta monstruosa “como manter Bettas em aquário com mais de 20 ou 30cm de altura?” Posso lhes dizer que é consideravelmente simples, eu já o fiz e mantive a montagem por aproximadamente 3 anos. O aquário possuía 375L (150cm X 50cm X 50cm) e eu usei algo que aprendi com um grande amigo meu e ele gosta de chamar de “dinâmica de margens”. Com muitos troncos e galhos na parte traseira do aquário fiz um sistema que ia do substrato até a alguns cm da superfície. Entre os troncos coloquei anúbias, musgos e microssorums. Além disso, plantei no substrato vallisnerias e higrófilas e as mantive grandes o suficiente para que ficassem imediatamente abaixo da superfície da água. Dessa forma, os Bettas possuíam muitos lugares para descansar próximos à superfície e, mesmo assim, os Bettas ainda iam até o substrato procurar por comida, ainda que eventualmente. Sempre que explico isso para alguém que acredita na “regra dos 20cm” ou “dos 30cm” (que seja) a pessoa me fala algo do tipo “ah mas aí não vale” ou então “você teve muito trabalho pra fazer dar certo”. Bom, se vale ou não, cabe ao júri decidir o fato é que o aquário tinha 50cm de altura e o substrato tinha entre 3 e 5cm. Além disso, eu nunca disse que não daria trabalho manter Bettas em aquários altos, mas eu disse sim que era possível. E sempre que me perguntam eu digo que esse tipo de montagem não depende apenas da altura do aquário depende, também, da montagem do layout e depende também do Betta! Creio que muitos hobbystas consideram impossível manter Bettas em aquários altos porque conhecem apenas o Betta mais popular, o long fin (long finned). Os machos desse tipo de Betta possuem barbatanas longas e volumosas e, por conta disso, possuem uma mobilidade consideravelmente defasada, se comparados aos Bettas selvagens ou do tipo plakat. Tendo dito isso, acredito que esse tipo de Betta deva ser mantido, preferencialmente em aquários com águas bastante calmas. Os Bettas selvagens e do tipo plakat conseguem nadar de forma perfeitamente orientada em águas um pouco mais movimentadas (mas ainda preferem ambientes lênticos). Porém, ainda acredito que os long fin possam ser mantidos em aquários mais altos que 20 ou 30cm com as devidas adequações. Além do mais, a cauda em véu dos Bettas long fin é muito mais chamativa que a cauda dos outros dois tipos. Isso torna mais complicado misturá-los a outros peixes, pois os Bettas long fin são mais propensos a terem suas caudas mordiscadas por outros peixes. Os Bettas crowntail não apresentam problemas de mobilidade muito acentuados, porém sua cauda também é extremamente chamativa.

Aproveitando o assunto, falarei também sobre a sociabilidade dos Bettas. Muitos vendedores e hobbystas pregam que Bettas não podem viver com nenhum outro peixe, entretanto muitas montagens bem sucedidas mantém Bettas junto com outros peixes e mesmo com outros Bettas! Falemos sobre isso. Em aquários de tamanho apropriado, Bettas podem conviver com outros peixes. Para isso, eu indico aquários mais longos, que possuam, preferencialmente, a partir de 60cm de comprimento, para que o Betta possa estabelecer um território sem a possibilidade de querer dominar todo o tanque, além disso o comprimento do aquário é importante para que os outros peixes possam fugir do Betta no início e apenas caso seja necessário (na maioria das vezes nem é necessário fugir, uma vez que depois de estabelecido seu território, o Betta se torna muito mais calmo e os outros peixes aprendem a evitar a área escolhida por ele, que geralmente não é muito grande). Como qualquer outro peixe, Bettas criados sozinhos por longos períodos de tempo, podem ter dificuldade em aceitar companheiros de aquário. Além disso, deve-se considerar que Bettas, como a maioria dos peixes, possuem personalidades distintas e não há garantias de que um Betta irá se comportar da forma esperada. A agressividade pode ser debelada mantendo o aquário bem plantado, dando ao Betta a opção de escolher seu espaço e permanecer nele sem ser “incomodado”. Outra maneira de contornar essa agressividade é escolher Bettas jovens para inserir no aquário, assim irão se acostumar à companhia de outros peixes durante seu desenvolvimento. Nesse aspecto, Bettas são muito similares a ciclídeos. Eles escolhem um território e o defendem, no caso dos Bettas essa defesa raramente é excessivamente agressiva. Vale lembrar ainda que nem todos os Bettas determinam territórios para si. Alguns exemplares são mais pacíficos e nadam por todo o aquário, estabelecendo territórios apenas em período reprodutivo, assim como na natureza, Bettas brigam muito mais durante o período reprodutivo para defender seus territórios. Porém, via de regra, exemplares domésticos tendem a ser mais agressivos que Bettas “wild caught”. Tendo dito isso, similar aos ciclídeos, é possível manter múltiplos exemplares de Betta em um mesmo tanque, desde que o aquário tenha um tamanho adequado. Para manter Bettas de ambos os sexos, sugiro que sejam mantidas de 2 a 3 fêmeas para cada macho e que o aquário tenha a partir de 100cm de comprimento e seja densamente plantado. As fêmeas provavelmente irão brigar entre si até que se estabeleça uma hierarquia, depois de estabelecida as brigas reduzem drasticamente e muitas vezes até deixam de ocorrer. Recomendo ainda que as fêmeas sejam inseridas algumas semanas ou meses antes do macho. No caso de manter mais de um macho (sim, é possível) eu sugiro aquários a partir de 100cm de comprimento (usando uma “regra” de 50cm de comprimento para cada macho) densamente plantados com muitas estruturas para a formação de territórios. Um layout planejado para a formação de territórios, com barreiras visuais, pode ajudar a reduzir ainda mais a agressividade dos machos. Assim como as fêmeas, os machos brigarão no início até estabelecerem uma hierarquia, a partir desse momento as brigas passam a se restringir apenas a alguns flashes de barbatanas e algumas raras perseguições curtas. Não, Bettas não lutam até a morte em seu habitat natural e também não o fazem em aquários de tamanho adequado. O Betta derrotado foge do território do Betta dominante e procura outra área para si. Ainda, assim como ciclídeos, Bettas respondem a outra “regra” (odeio essa palavra no que se refere ao aquarismo, mas por falta de uma melhor...). Podem ser mantidos juntos de forma mais harmoniosa nos dois extremos da população de um aquário. Para que convivam da melhor forma possível pode-se optar por manter poucos Bettas em um aquário com outros peixes (a presença de outras espécies também reduz a agressividade dos Bettas e muitas espécies são, inclusive, conhecidas como dither fishes) o que permite que definam seus territórios, ou pode-se, ainda, optar pelo sistema de lotação, no qual os peixes não estabelecem territórios e a grande quantidade de peixes é responsável pela dispersão da agressividade. Para uma lotação, sugiro aquário a partir de 200 litros. Vale lembrar que, mesmo em tanques que não são densamente plantados, Bettas podem coexistir sem o estabelecimento de territórios apenas a partir da instituição de uma hierarquia. Muitos criadores, inclusive, atribuem o sucesso dessa prática à inexistência de territórios. Outro ponto importante a se destacar é que a presença de fêmeas aumenta a agressividade e o territotialismo dos machos. Por isso, preferencialmente, opto por manter apenas um macho, ou 1 macho e um grupo de fêmeas ou ou apenas um grupo de fêmeas ou, ainda, um grupo de machos sem nenhuma fêmea no aquário. 




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